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Fiocruz e Universidade de Washington criam projeto de vigilância em saúde na Tríplice Fronteira

O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) e a Universidade de Washington firmaram parceria para implementarem, junto com diversos outros órgãos de ensino e pesquisa, o Projeto INSIGTH, com o objetivo de promover o fortalecimento da vigilância em saúde, na região da Tríplice Fronteira (Brasil, Peru e Colômbia), com atenção voltada para infecções endêmicas , como malária, tuberculose, dengue, infecções sexualmente transmissíveis (IST’s), hepatites virais, doenças de veiculação hídrica e febres de origem desconhecida – todos agravos emergentes que acometem as populações mais vulnerabilizadas dos três países.

O projeto contará com financiamento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC-EUA), para o desenvolvimento de ações conjuntas entre os países, com apoio da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), Universidade Nacional da Colômbia, Fiocruz Bahia, Fundação de Vigilância em Saúde Dra Rosemary Costa Pinto (FVS-AM), Universidade Nacional de la Amazonía Peruana, Secretarias de Saúde de Letícia e Tabatinga, além de representações da localidade de Santa Rosa, no Peru.https://www.smartadserver.com/ac?siteid=482434&pgid=1518426&fmtid=38614&tgt=foo%3Dbar&tag=sas_38614&out=amp-hb&isasync=1&pgDomain=https%3A%2F%2Fwww.acritica.com%2Famazonia%2Ffiocruz-e-universidade-de-washington-criam-projeto-de-vigilancia-em-saude-na-triplice-fronteira-1.308125&tmstp=0-38209881143867119063&__amp_source_origin=https%3A%2F%2Fwww.acritica.com

O projeto é piloto e integra um acordo de cooperação entre o CDC, Centro Internacional de Formação e Educação para Saúde da Universidade de Washington (UW I-TECH) e a Fiocruz Amazônia. Durante dois dias (13 e 14/06), representantes de instituições de saúde, ensino e pesquisa dos três países estiveram reunidos na sede da Universidade Nacional da Colômbia, na cidade de Letícia (fronteira com Tabatinga), para apresentação do projeto e diagnóstico situacional da saúde na região da Tríplice Fronteira.

O projeto será coordenado pelo Laboratório de Situação da Saúde e Gestão do Cuidado de Populações Indígenas e outros grupos vulneráveis (SAGESPI), da Fiocruz Amazônia. A diretora da Fiocruz Amazônia, Adele Benzaken, destacou a importância da iniciativa à medida em que contribui para o fortalecimento da vigilância na área de fronteira, com ações de prevenção, diagnóstico e tratamento, somando-se a outras iniciativas já em andamento na região, voltadas para indígenas e ribeirinhos do Vale do Javari e da Amazônia peruana e colombiana.Dra. Adele Benzaken, diretora da Fiocruz Amazônia, destaca a parceria para fortalecer a vigilância em saúde na região da Tríplice Fronteira, visando combater infecções endêmicas e agravos emergentes (Foto: Divulgação)

“Esse encontro objetivou apresentar o projeto e discutir propostas viáveis de estratégias de atuação, construídas de forma coletiva e participativa pelos três países”, explica Benzaken.

Além de Brasil, Colômbia e Peru, o INSIGHT pretende atuar na região da Tríplice Fronteira do Brasil com Paraguai e Argentina. A diretora regional para a América do Sul, do UW I-TECH, Fernanda Freistadf, explica que o Projeto INSIGHT é parte do programa global do CDC, o GHPDI, que visa aumentar o acesso de governos a dados de saúde pública mais precisos, completos e disponibilizados com mais rapidez para detectar, monitorar, investigar e responder de maneira eficaz a problemas de saúde pública.

“Temos um acordo de cooperação com a CDC dos EUA e dentro desse mecanismo de financiamento o objetivo é fortalecer a vigilância em saúde em duas tríplices fronteiras na América do Sul. Aqui, na Tríplice Fronteira entre Colômbia, Brasil e Peru, estamos trabalhando em colaboração com a Fiocruz e o apoio dos parceiros de Tabatinga, Leticia, Santa Rosa e Iquitos para identificarmos quais as necessidades existentes em relação à vigilância e quais as áreas em que será possível intervir e apoiar para que possamos ter resultados práticos”, afirmou.

O projeto deverá se estender até setembro de 2024, com um cronograma de reuniões e encontros para discussão de dados e definição de atividades. “Esse primeiro momento foi de diagnóstico das necessidades, apresentação do projeto e de propostas de ações que possam ser viabilizadas”, avaliou o pesquisador da Fiocruz Amazônia, Fernando Herkrath, chefe do SAGESPI e um dos coordenadores do projeto.

Segundo ele, o encontro gerou diversas proposições, entre as quais trabalhar com mecanismos nacionais e internacionais para assinatura de acordo tripartite, capacitação dos profissionais, incluindo os agentes comunitários de saúde indígenas e não-indígenas, definição de protocolos locais, reuniões periódicas para análises de situação, elaboração de boletins epidemiológicos conjuntos dos três países para doenças prioritárias, padronização dos dados de cada país para facilitar compartilhamento e análise das informações e consolidação de uma rede de notificação e resposta comum entre os países. 

“Identificando as necessidades podemos desenvolver uma ação que tenha resultados e não fique só no papel”, avalia Freistadf, destacando a importância da parceria com a Fiocruz Amazônia, diante da oportunidade de expansão dos projetos da Universidade de Washington na América Latina. Adele Benzaken ressalta a importância da parceria com a Fiocruz Bahia para a definição de estratégias de vigilância em saúde na região.

Presente ao encontro, o médico sanitarista Vinícius de Araújo Oliveira, tecnologista em saúde pública e pesquisador do Centro de Operação de Dados e Conhecimentos em Saúde (CIDACS), da Fiocruz Bahia, explica que pretende contribuir com o projeto a partir da implementação da Vigilância Digital em Saúde, uma linha nova de vigilância em saúde apoiada em dados digitais, que vem sendo desenvolvida pelo CIDACS.

“Precisamos entender como é que será essa investigação de campo para entender qual o processo de trabalho que gera os dados e como eles são usados pelos trabalhadores e gestores locais para tomar decisões”, afirma Vinicius, acrescentando que as estratégias devem permitir uma maior agilidade e transparência na troca de informação na Tríplice Fronteira Brasil, Peru e Colômbia.

“Chega a ser um desafio porque a cidade aqui (Letícia) é muito peculiar, praticamente uma cidade trinacional, com uma integração informal muito grande entre as equipes de saúde”, pontua, lembrando que o desafio é pensar como esses fluxo de comunicação, alertas, sensações, percepções dos agentes de vigilância de cada um dos países pode se tornar um fluxo institucionalizado, respeitando a soberania dos países e permitindo uma resposta rápida frente às situações de alerta. 

Neste sentido, a diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas- Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), Tatyana Amorim, presente ao encontro, avaliou o projeto como um importante passo para o fortalecimento da vigilância em saúde no território da tríplice fronteira.

“Cada país tem seu sistema de informação de saúde com as suas peculiaridades, é neste sentido que buscamos por meio da formalização do acordo internacional avançar na sala de situação de saúde trinacional”, ressaltou. Ao final do encontro, os participantes puderam conhecer as instalações do Laboratório de Fronteira, na cidade de Tabatinga, e da Secretaria de Saúde do município de Letícia.

FRONTEIRAS NA AMÉRICA DO SUL

A América do Sul possui grande extensão de fronteiras, muitas das quais binacionais e trinacionais, cuja situação preocupa a Organização Panamericana de Saúde (OPAS). O consultor do Programa Sub-regional da OPAS para a América do Sul, Carlos Arosquipa, explica que a entidade já vem trabalhando há alguns anos no âmbito das fronteiras onde se desenvolvem processos que podem ser mais vulneráveis às populações que vivem nessas zonas.

“Nas regiões de fronteira, temos muitos processos de integração. Na América do Sul, as fronteiras não são físicas, são virtuais. As populações se movem muito dinamicamente, e isso também faz com que as enfermidades possam muito mais facilmente disseminarem-se de um país a outro. A pandemia nos mostrou que devemos fortalecer nossas ações em âmbito das fronteiras não somente para mantê-las mais seguras para quem vive nessas zonas, mas também para garantir que a população se desloque, se mova, em boas condições”, afirmou, referindo ao projeto como uma oportunidade, apoiada pela OPAS, de desenvolver boas práticas e modelos de trabalho conjunto entre governos dos países e atores locais para melhorar a saúde das populações nesses territórios.