Nascentes localizadas na zona leste de Manaus apresentam qualidade de água que se assemelha às áreas de floresta primária, indicando a oportunidade de restauração de ambientes aquáticos e a possibilidade de preservação ambiental em área urbana. Foi o que apontou pesquisa apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
O estudo “Influências Antrópicas em Compartimentos do Ciclo Hidrológico em Microbacias da Amazônia Central – Uma Análise a partir do Uso de Múltiplos Traçadores” foi desenvolvido através de parceria entre a Fapeam e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Chamada Pública Nº 001/2020 – Programa Fapesp/Fapeam.
Com a finalidade de entender os processos hidrológicos, tanto em área urbana, quanto em áreas de floresta primária em Manaus, foi realizada a análise da composição isotópica (identificação dos elementos químicos) de variadas fontes de água, como as de: precipitação (água da chuva), água superficial (igarapés), água subterrânea (poços) e esgoto (que drenam para os igarapés).
A presença dos isótopos deutério (2H) e do Oxigênio-18 (18O) foram analisados nas amostras. Ambos existem naturalmente na natureza, mas devido a variações da composição da água, são utilizados como ferramentas para entender as origens dos fluxos de água em bacias hidrográficas.
O coordenador da pesquisa e doutor em Ciências da Engenharia Ambiental, Sávio José Filgueiras Ferreira, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), afirmou que o conhecimento da variabilidade de nutrientes em diferentes sazonalidades e níveis topográficos é importante para entender sobre as condições abióticas (componentes físicos e químicos do ambiente que não são seres vivos) em florestas de terra firme na Amazônia Central.
“Na área urbana do município, sabemos que há retirada de água subterrânea e isso tem causado um rebaixamento do nível de água, e lançamento de esgoto que, no período de estiagem, podemos perceber seus efeitos como mau cheiro, principalmente à noite, e há grande quantidade de resíduos e lixo nos canais”, disse Sávio Ferreira sobre a motivação da pesquisa de entender as fontes de água da bacia do Educandos, do igarapé do Quarenta e de seus principais tributários, cursos de água menores que desaguam em um rio principal.
A análise foi realizada em duas microbacias em área de floresta primária: a do Igarapé Açu, localizada na Reserva Biológica do Cuieiras (área preservada); e a do Igarapé Educandos, em área urbana, que corresponde a parte do Instituto Federal do Amazonas – Campus Manaus Zona Leste (Ifam/CMZL) e ao Refúgio da Vida Silvestre Sauim-Castanheiras, apresentando algumas áreas protegidas nas proximidades de seus divisores, mas predominantemente com ocupação urbana. Logo após também foi adicionada uma área na Bacia do Tarumã Açu, localizada na Reserva Florestal Adolpho Ducke.
Técnicas usadas
Durante o processo, foram utilizadas técnicas hidroquímicas, isotópicas e hidrológicas. Sávio afirma ainda que o diferencial do estudo foi apresentar a composição isotópica de múltiplas fontes de água em área urbana e em locais que ainda apresentam águas naturais na Amazônia Central, fornecendo informações que podem ser comparadas com outras bacias hidrográficas em regiões nacionais e internacionais. E, dessa forma, contribuir para a melhoria de políticas de proteção ambiental e para o maior monitoramento nesses corpos de água.
Ele complementa ainda que pesquisar e monitorar os ambientes aquáticos são atividades fundamentais para a sociedade, uma vez que o conhecimento é estratégico para a gestão dos recursos hídricos.
Outro ponto destacado pelo pesquisador foi a respeito da importância das áreas de vegetação, como a encontrada no Refúgio da Vida Silvestre Sauim Castanheiras e a do Instituto Federal do Amazonas (Ifam) da Zona Leste, onde as áreas de captação da água da chuva, em grande parte, infiltram e chegam ao lençol freático, o que compensa a água subterrânea que foi retirada para outros fins.
“A principal mudança do fluxo de água em área natural para área urbana aconteceu nas fontes subterrâneas entre as microbacias hidrográficas. Os isótopos indicaram águas mais recentes transportadas pelo fluxo de base, em área urbanizada”, explicou.
Sobre o Programa Fapesp/Fapeam
O programa apoiou pesquisas colaborativas de pesquisadores vinculados a Instituições de Ensino Superior ou Pesquisas de ambos os Estados, interessados em submeter propostas que visassem a formação ou o fortalecimento de redes de pesquisas colaborativas entre o Amazonas e São Paulo, nas seguintes áreas e subáreas: Meio Ambiente: Controle e Monitoramento preventivo de queimadas, Recuperação de áreas degradadas, Gestão de áreas de conservação; Amazonas e suas fronteiras: Segurança Alimentar, Segurança Pública, Alternativas de Trabalho e Renda; Desenvolvimento e Economia: Cadeias produtivas regionais, Potencial bioeconômico complementar ao Polo Industrial de Manaus – Zona Franca Verde, e Novos materiais oriundos da biodiversidade local.
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